Os mais de duzentos participantes do seminário “O Desafio da Gestão de Rodovias: Obras, Meio Ambiente e Sociedade” promovido pelo Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) na tarde da última quinta-feira (23), aprofundaram o urgente debate sobre a questão ambiental e a construção rodoviária.

O Secretário dos Transportes, Pedro Westphalen, a titular da Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Social e diretora da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), Ana Pellini, o diretor-geral do Daer, Ricardo Nuñez, e o superintendente regional substituto do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), Delemar Pellegrini Filho, deram as boas-vindas aos participantes e painelistas convidados do evento.

Pellini reconheceu que hoje é mais difícil construir estradas devido às leis ambientais, que estão mais severas. Alertou também para a existência de um movimento nacional que busca isentar as exigências ambientais às obras públicas. Segundo a secretaria, “a contrariedade vem da demora e do custo desse licenciamento, mas ninguém discute o mérito”, acredita. Conforme Pellini, a tendência é de que esses estudos ambientais sejam feitos somente dentro do necessário. “O Daer, positivamente na contramão, está se preparando para atender a questão ambiental”, considerou.

Segundo Nuñez, o meio ambiente está inserido na obra e deve fazer parte do planejamento desde o início do projeto. “Tivemos essa preocupação com a Rota do Sol (RSC-453/ERS-486) e queremos avançar ainda mais nesse tema, o que será possível com o incremento de nossa equipe, a partir da reestruturação do Daer”, concluiu. “Estamos levando esse conceito para nossos técnicos e engenheiros, executores da obra, com um debate constate”, revelou o diretor-geral do Daer.

O evento apresentou dois cases de sucesso na área ambiental relacionada à construção rodoviária. A coordenadora técnica de Meio Ambiente do Daer, Josani Carbonera, falou sobre a experiência da construção da Rota do Sol, considerada um marco na história do Departamento. De acordo com ela, é uma região de grande importância ecológica que exige o enfrentamento de desafios pela diversidade e riqueza da fauna e flora, além das nascentes dos rios – necessitando de grandes estudos para minimizar o impacto ambiental. “A temática ambiental dever ser inserida nas fases de planejamento, construção e operação das rodovias”, esclareceu Josani.

O engenheiro civil Adriano Peixoto Panazzolo, que coordena o setor de Meio Ambiente e Recurso Hídricos da STE (Serviços Técnicos de Engenharia S.A.) abordou as conquistas e os desafios do segundo case: o gerenciamento ambiental na construção da BR-116. “Atraso em obra é falta de planejamento”, enfatizou Panazzolo. Segundo ele, um dos maiores desafios da empreitada foi sensibilizar a população local, na área da construção da rodovia, em relação aos seus hábitos. “Os impactos ambientais devem ser reduzidos através do planejamento e gerenciamento do meio ambiente”, assegurou Panazzolo.

Os participantes assistiram também ao debate, mediado pelo jornalista André Machado, que contou com Ricardo Nuñez, Adriano Panazzolo, Humberto César Busnello (Toniolo, Busnello), Cylon Rosa Neto (Bourscheid Engenharia e Meio Ambiente) e o diretor técnico da Fepam, Rafael Volquind. 
Busnello considera que a questão ambiental na construção rodoviária evoluiu muito nos últimos anos. “As divergências passadas, hoje, convergem”, acredita. Ele enfatizou a necessidade de projetos ousados e viáveis para respeitar o meio ambiente e executar com qualidade na construção. “Desde o início do projeto, as questões ambientais devem vir em paralelo”, argumentou, buscando a integração técnica entre órgãos ambientais e construtoras.

Cylon Rosa Neto argumentou que licenciamento ambiental é solução, não problema. “Rodovia licenciada terá recursos de compensação”, enfatizou o engenheiro. A questão ambiental, segundo ele, deve ser tratada com a inteligência e seriedade merecidas. “Temos que fazer o tema de casa: ligar meio ambiente e a engenharia rodoviária, além de fazer melhor uso dos recursos naturais”, resumiu Cylon
Rafael Volquind também enfatizou a importância do planejamento. “Antes, as obras rodoviárias eram conduzidas pela topografia, sem considerar o meio ambiente”, salientou. Hoje, para resolver e encaminhar novas soluções, o engenheiro recomendou o controle constante, a educação ambiental e a responsabilidade socioambiental. “Precisamos de ousadia para vencer as dificuldades”, assegurou o engenheiro.

Panazollo ressaltou que a gestão ambiental pode ocorrer sem prejuízos ao bom andamento da obra. “Meio ambiente e obras devem convergir”, complementou. O engenheiro defendeu o trabalho conjunto na busca de investimentos e empreendimentos com sustentabilidade, constatando, com entusiasmo, que hoje estudantes de engenharia contemplam cuidados ambientais em função do traçado de rodovias.

O mediador, André Machado, sugeriu a realização de um debate com jornalistas a fim de evitar que falem somente em custos e possam explicar também os recursos para a redução do impacto ambiental, evitando simplificar essa relevante questão.

O evento encerrou com o show da banda Os Ambientais, do projeto Canção dos Bichos, da gestão ambiental da construção da BR-116/392.